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Maria Rita Quemello

Pertence: Clube de Porto Alegre promove turismo para pessoas com deficiência

Atualizado: 1 de mai. de 2022


O Clube Social Pertence (CSP), localizado na cidade de Porto Alegre, tem a finalidade de proporcionar às pessoas com diferentes deficiências e classes sociais, atividades, projetos e viagens que promovam a sociabilização e a construção da cidadania.


Os participantes beneficiados são estimulados a vencer as barreiras do dia a dia e a ganhar independência, criando suas próprias histórias de vida e despertando o sentimento de "pertencer a algo maior" através de experiências marcantes, laços de amizade, inclusão social e trabalho.



Além das atividades realizadas diariamente na instituição, são realizados passeios quinzenalmente na cidade de Porto Alegre, promovendo o turismo local para os participantes. E, uma vez ao ano, são realizadas viagens para diferentes destinos do Brasil, com o intuito de ampliar a socialização, independência, e é claro, muita diversão para todos.


"Estar em contato com outras culturas é essencial, conhecer outros lugares, pessoas e diversidades, porque o brasil é um país multifacetado. Além disso, a socialização, sair das 4 paredes, se aventurar, vencer desafios e conhecer lugares históricos do nosso país e fazer com que eles percebam que eles também pertencem a esses lugares gera um impacto muito positivo", afirma Marina Barth, psicóloga e gestora de desenvolvimento educacional do Pertence.


A psicóloga também explica a iniciativa também traz impactos para a sociedade. "Isso serve tanto pra um empoderamento deles, quanto pra sociedade ver que os lugares também pertencem às pessoas com deficiência. Elas podem estar onde elas quiserem! Isso contribui para a mudança desse olhar social em relação a deficiência. A partir do momento que eles ocupam esses espaços, contribuímos para maior acessibilidade, maior mudança de atitudes em relação às pessoas com deficiência e uma sociedade mais inclusiva", ressalta Marina.



Quando questionada sobre gostar mais de viajar com a família ou com o grupo Pertence, a participante Julia Borba, de 43 anos e pessoa com deficiência intelectual, disse animada que prefere as viagens com o grupo. "Gosto mais de ir com o Pertence, por estar em um grupo de amigos e cuidadores, viajar com a família é legal, mas é mais divertido com o Pertence."


Clarissa Schilling, de 34 anos que vive com deficiência intelectual explica o porquê também prefere viajar com os amigos do Pertence. "É um grupo composto de pessoas como eu, com deficiência. Quando eu viajo com outras pessoas, me sinto um peixinho fora d'água", comenta.


Rodrigo Greco, de 33 anos gosta da sensação de independência que sente ao estar com o grupo. "É muito bom viajar com o Pertence, longe dos pais, eu gosto muito", disse ele que vive com deficiência intelectual, e já teve oportunidade de realizar várias experiências de turismo com a família, inclusive em viagens internacionais.




A primeira viagem realizada pelo Pertence foi em 2016 para a cidade de São Paulo. Segundo Marina, o destino de cada viagem é decidido a partir de uma pesquisa, mas levando em conta também o desejo dos participantes. "Normalmente, colhemos ao longo do tempo algumas sugestões, mas a decisão acaba partindo da direção do Pertence, através de uma pesquisa, baseada no apoio de empresas de turismo", explica a psicóloga.


De acordo com a profissional, muita coisa precisa ser levada em consideração na escolha do destino. "Pesquisamos o que é possível em relação a custo-benefício, conhecendo a realidade financeira dos nossos participantes, valor de passagem, hospedagem, quais lugares possuem passeios turísticos em que nós vamos conseguir participar, tempo de viagem, percurso."


Ainda sobre o processo de planejamento da viagem, Marina dá detalhes de como tudo é organizado pensando no bem estar e necessidade de cada participante. "Depois que definimos o destino e tempo de estadia, que gira em torno de 4 a 5 dias, divulgamos para os participantes e familiares interessados. Então, olhamos para cada pessoa e vemos as caraterísticas, o que cada um precisa, questões como medicação, alergia, locomoção."


Marina Também fala sobre o desejo que todos do Pertence possuem em fazer uma viagem para fora do Brasil. "Um grande sonho é realizar uma viagem internacional, existe um desejo em conhecer a Disney, ainda não foi possível por questões de recursos."



"Eu me sinto mais corajosa, tenho coragem de enfrentar os desafios e dificuldades. O Pertence é a minha segunda família, eles ajudaram a melhorar o meu ponto de vista. Antes eu achava que não era capaz de nada, que não seria capaz de viajar sem meus pais, mas com o Pertence eu tive boas experiências, tive coragem e fui em todas as viagens até agora. É sensacional e muito importante pra mim", conta a participante Clarissa.


Clarissa também fala sobre a importância do turismo para ela e como a experiência de viajar, mesmo em grupo, lhe trouxe autonomia. "Através do turismo eu vejo que tenho capacidade de me virar sozinha, arrumar minhas coisas, deixar tudo organizado, cumprir horários, ver que eu tenho capacidade de viajar. Depois disso quero ter capacidade de morar sozinha também."


Nesse sentido, Rodrigo fica orgulhoso em contar sobre os lugares que conheceu e pelo fato de ter sido o primeiro de sua família a viajar para Foz do Iguaçu, no Paraná. "Para mim o turismo é tudo, antes eu não conhecia São Paulo, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu. Ninguém da minha família conhece Foz do Iguaçu, mas eu conheço porque fui com o Pertence."



A psicóloga Marina finaliza comentando sobre a importância das viagens serem realizadas em grupo. "O fator grupo é um diferencial muito grande, até pra esse sentimento de pertencimento, autoestima e empoderamento dos nossos participantes. Estar em um grupo cria o sentimento de identidade para eles."



Como surgiu o Instituto Pertence



História do Grupo


O Pertence surgiu da percepção de uma educadora chamada Sara Zinger, sensibilizada por sua experiência junto a jovens com deficiência intelectual, percebeu a falta de interação social e restrito espaço na sociedade para que tivessem a oportunidade de vivenciarem seus desejos e sonhos. No início, Sara se propôs a oportunizar atividades sociais formando um pequeno e primeiro grupo social.


As primeiras experiências a convenceram de que deveria buscar a parceria estratégica de um jovem que pudesse ajudá-la a multiplicar o impacto. Foi então que o educador físico Victor Daniel Freiberg incorporou ao projeto uma visão empreendedora. Juntos, começam a realizar encontros de pequenos grupos com atividades culturais de lazer e entretenimento voltadas a cada faixa etária. O êxito dos encontros foi grande e os próprios jovens e seus pais solicitaram que as atividades se tornassem permanentes.


Assim, em agosto de 2011, nasceu o Clube Social Pertence com uma proposta ímpar de lazer e entretenimento. Com isso, o número de participantes cresceu, bem como as atividades e serviços. Hoje já são mais de mil famílias que foram impactadas pela metodologia que guia os projetos presenciais e virtuais que promovem a sociabilização, a construção da cidadania, levando inclusão e pertencimento por Brasil todo.



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