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Jéssica Paula

Interlaken e Jungfrau, aos pés dos Alpes Suíços

Atualizado: 7 de jan. de 2020

Como chegar ao Topo da Europa



Além de conhecer a cidade de Zurique — centro econômico da Suíça e por onde chegam os voos da Swiss Airlines que saem direto de São Paulo — minha viagem ao pequeno país montanhoso tinha um rumo bem específico: conhecer Jungfrau, um alpe cujo topo é considerado o ponto mais alto de toda Europa.


Com 4.158 metros de altura, não pense que você precisaria ser um alpinista para chegar até a ponta desta montanha. Como essa atração fica na Suíça, sim, é possível chegar de trem.


Quando busquei informações sobre este que é um dos passeios mais famosos do país, encontrei muitos textos que diziam que o local era acessível para pessoas com deficiência ou com dificuldade de locomoção. Eis aqui minha experiência:


Como chegar


Para ir à Jungfrau primeiro é necessário chegar à Interlaken, um vilarejo lindo de onde privilegiadas 5.319 pessoas vivem com vista para os alpes. Ali, é possível encontrar uma série de hotéis, hostels cafés e restaurantes.


Os valores de trens partindo de Zurique até Interlaken variam de 20 a 60 euros o trecho dependendo do horário e do período do ano. Durante as pesquisas de preço, o Bla Bla Car me pareceu o sonho dourado, custaria apenas 10 euros o trecho. O motorista que ofereceu a viagem tinha uma excelente avaliação e dezenas de comentários positivos. Parecia ser uma boa opção para usar o aplicativo de caronas. E foi.


Cheguei no aeroporto de Zurique e fui logo para o ponto de encontro combinado com o motorista: em frente à loja de conveniência de um posto de gasolina bem próximo ao aeroporto, dava para ir à pé. Tirando o fato de que estava no fim da viagem, com um mochilão que já ultrapassava os 13 kg nas costas, não seria difícil chegar até lá.


Enquanto esperava, consegui comer um salgado por 7 euros, além de aproveitar para comprar um pacote com três croissants por 5 euros. Uma pechincha para os padrões do aeroporto de um dos países mais caros do velho continente.


Daniel chegou, e iniciamos a viagem de quase duas horas, e que nem dá pra sentir. Assim que entrei no carro, ele ofereceu um Rivella, o refrigerante que aparentemente todos os suíços adoram e que ele jura ser à base de leite, apesar de o sabor, no meu paladar, se sair à uma mistura de chá com guaraná com cerveja. Mas vale experimentar.


Interlaken



No caminho, Daniel foi muito gentil e explicou curiosidades sobre a cultura no país, histórias e até mesmo uma base sobre a formação geográfica daquela região de águas verdes cristalinas. A cor da água, inclusive, não é mero acaso. Fruto de degelo e de uma diversidade de substâncias orgânicas que descem das montanhas, qualquer lagoa é um estonteante cenário para fotos.


Parada com vista para uma cidadezinha, pouco antes de chegar à Interlaken

Ao chegar no destino final, quase tropecei nas muletas tão boquiaberta estava. O hostel em que fiquei hospedada está em frente à principal pracinha do centro da cidade. Ali, há um ponto com paraglidings que misturados aos pássaros e às montanhas ao fundo formam um colírio para os olhos.


Hospedagem


O Backpackers Villa Hostel é uma das opções de hospedagem com melhor custo benefício da cidade. Apesar dos dormitórios compartilhados, também é possível se hospedar em quartos individuais - e com vista para os alpes.


O local, que é acessível, possui um elevador (que funciona) e rampas onde elas são necessárias, é novo e muito bem estruturado.


O quarto em que fiquei era para seis pessoas distribuídas em três beliches. Os banheiros (um apenas com ducha e outro com vaso sanitário e a pia) são compartilhados apenas com aqueles que ficam no quarto. Há também aquele detalhe que não há mochileiro que não goste: lâmpadas, tomada e uma pequena prateleira em cada cama.






O Villa ainda disponibiliza moedinhas para trocar por bebidas no hall de entrada e um jardim delicioso, com árvores, espreguiçadeiras e claro, com montanhas ao fundo.


Também no hall de entrada ficam duas televisões onde são transmitidas imagens ao vivo do topo de Jungfrau e de outros mirantes que também podem ser alcançados de trem. A ideia é que você possa ter uma noção de como está o tempo e a visibilidade, já que é muito comum que as nuvens encubram os mirantes sendo possível ver um total de zero paisagens mesmo estando lá em cima.


Em um dos dias em que precisei acordar às 5h da manhã e, portanto, antes do horário do café, as recepcionistas foram super gentis e me deram uma fruta, um pãozinho e uma caixinha de achocolatado para que eu pudesse sair com algo no estômago no dia seguinte. Ou seja, local mais recomendável, impossível.



Praça no centro de Interlaken

Trajeto até o topo


Há duas estações de trem na cidade de Interlaken. Para ir à Jungfrau é preciso partir da estação chamada Interlaken Ost (oeste em alemão). Ali mesmo é possível comprar o ticket para a subida. É importante observar que não há trem direto e é necessário fazer ao menos duas baldeações - bem tranquilas - para chegar até o topo.


No entanto, existe todo um sistema de linhas férreas que faz o trajeto não apenas de Interlaken à Jungfrau mas dão acesso a vários outros cenários de filme e vilarejos que são uma gracinha no verão e se transformam em estação de esqui no inverno.



Mapa das linhas de trem na região de Jungfrau

Para os menos endinheirados, há um segredo que ajuda a economizar na hora de comprar o passe para subir até o topo da Europa. Isso porque o valor padrão do bilhete para ir e voltar de Jungfrau sai pela bagatela de 210 euros. No entanto, se você embarcar nos dois primeiros trens da manhã (em torno das 6h30 e as 7h), o valor cai para 85 euros. É o chamado Good Morning Tickets, a única diferença é que você precisa descer do mirante de Jungfrau (o trajeto pontilhado no mapa acima) até as 13h . Mas você pode, da mesma maneira, usufruir das linhas de trem, descer e subir em todas as outras paradas sem limite de tempo.



Saindo de Interlaken, há duas vias possíveis para atingir o topo, sendo elas:


Interlaken - Grindelwald - Kleine Scheidegg - Jungfrau

Interlaken - Lauterbrunnen - Kleine Scheidegg - Jungfrau



A maioria das pessoas vão te indicar para fazer a ida por Grindelwald e a volta por Lauterbrunnen. E elas têm razão. Isso porquê a primeira cidade, apesar de ser uma graça, não tem muitas atrações, ao contrário de Lauterbrunnen que é um lugar mágico permeado por cachoeiras, e você também pode parar nos vilarejos vizinhos que não deixam por menos.


Independente do trajeto que você escolher, a baldeação na estação de Kleine Scheidegg é obrigatória, não só porque é importante para a continuidade do trajeto, mas porque o lugar vai te proporcionar uma vista de tirar o fôlego com a sensação de estar, nestas palavras, aos pés dos alpes. Aproveite que está ali para fazer algumas das trilhas que há entre um vilarejo e outro (muitas pessoas deixam de fazer certos trechos de trem para fazê-los caminhando em um trajeto de baixíssima dificuldade), ou apenas para ficar sentado em alguns dos bancos dispostos no local, iluminando seus olhos.


Uma das trilhas ao redor de Kleine Scheidegg

Jungfrau


Pouco antes de o trem atingir o topo de montanha, há uma pequena parada de cinco minutos onde você pode sair para observar o gelo sobre a montanha através de um vidro ou ir ao banheiro. Ali, já é possível sentir e ver a neve de perto mesmo no auge verão, e é ali também que você já pode começar a colocar os casacos que estavam na mochila (sim, você vai precisar de roupa para neve mesmo no mês de agosto).


O mirante tem uma estrutura e tanto. Você pode escolher dentre diferentes atividades, desde conhecer a loja da Lindt a visitar o palácio de gelo (que é de fato muito gelado) e muito escorregadio e não, não tem corrimão.


Meu foco era ver a neve, então fui logo atrás dela. Ao pedir informação ali dentro, os funcionários tendem a te instruir a passar por todo o percurso do mirante. Para o que eu queria foi uma perda de tempo, já que não tinha interesse nas outras atrações. Por isso, é bom observar o mapa que te entregam junto com os tickets.


Depois de ter tentado entrar no palácio de gelo e sair de lá quase congelando e me rastejando, já que não há onde se apoiar, fui logo ver a neve real. A primeira coisa que aconteceu? Pisei nela e escorreguei. Já havia caminhado sobre neve e nunca tinha visto tão escorregadia. Alguns disseram que era culpa do verão e que os raios solares junto ao vento deixam a neve ainda mais escorregadia além de suja. Outros dizem apenas que é porque trata-se de um glaciar.










Raio X da acessibilidade


No principal mirante onde se pode acessar a neve, há um pequeno corrimão apenas na porta de entrada. Em volta, há cordas por todos os lados preservando o local que pode ser acessado pelos turistas, uma medida de segurança principalmente no verão, quando há buracos no gelo. Ali, todas as pessoas, independente, de suas condições físicas, estavam com dificuldades de caminhar, muitos caíram, e os mais idosos - grande parte do público presente, sequer conseguiram aproveitar. O que deveria haver ali são ao menos alguns apoios firmes, ou corrimões para que as pessoas com maior dificuldade pudessem se apoiar e, assim, se aproximarem da neve de verdade.


No meu caso, dei dois jeitinhos. Logo no primeiro tombo aproveitei que estava ali e já fiz minhas fotos rolando no gelo. O outro foram dois alemães que havia acabado de conhecer e que me carregaram até os outros prontos do mirante. Foi lindo e sou muito grata a esses anjos que surgem no meio do caminho, mas longe de ser acessível.


A maioria das estações de trem possuem rampas ou elevadores. Os funcionários também estão à disposição para quem precisar de informação ou daquela ajudinha extra nas principais paradas. No entanto, o trem que dá acesso à Jungfrau propriamente não tem acessibilidade. Para entrar, é necessário subir escadas com degraus estreitos e altos.


No mirante, há elevadores, mas junto a alguns deles, há um erro crucial: em alguns pontos eles só podem ser acessados com a chave de um funcionário - e não há alguém que fique disponível o tempo todo. Precisei subir escadas para sair do local onde se brinca com a neve, por exemplo. É claro que isso não vai impedir uma pessoa com deficiência de viajar e nem te impedir de levar seus pais ou avós até esse lugar incrível. Só é preciso estar preparando e, se necessário, procurar um funcionário assim que chegar no topo.



Lauterbrunnen

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