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Viajante que promove afroturismo mostra a necessidade de guias para pessoas negras



Guilherme Soares Dias é jornalista, consultor, empreendedor e amante de viagens. Em 2017 fundou o site Guia Negro, uma produção independente de conteúdo sobre cultura negra, afroturismo e black business. A plataforma conta histórias e inspira, além guiar experiências diversas no turismo.


Guilherme fala sobre a importância do site, já que há uma público relevante que segue os roteiros e dicas publicados. "Há muitas pessoas que chegam para contar como foi a experiência em determinados países, como Coreia, Canadá, Austrália, Rússia, e relatam a experiência de serem negros nesses locais. Mas também em situações como pegar carona, alugar um airbnb, fazer voluntariado."


O jornalista explica que a experiência de pessoas negras, em geral, tem outras complexidades que os brancos não costumam vivenciar. "Há sempre coisas interessantes e novas quando pensamos em viagens e relatos que são habitualmente embranquecidos."


Quando questionado sobre as campanhas publicitárias, em especial no turismo, Guilherme explica que as empresas têm buscado ser inclusivas, mas ainda é necessário ampliar. "Até há cotas com pessoas negras. Mas não são campanhas pensadas por pessoas negras, em empresas geridas por pessoas negras ou com a maior parte dos funcionários em cargos de decisão negros. Em geral, nosso corpo de pessoa preta é o diferente e, por isso, costuma chamar atenção de maneira negativa."


Ele ainda ressalta a importância de ser bem recebido e tratado nos espaços e, acima, de tudo ter segurança. "Os hotéis não trabalharam o letramento racial entre os seus funcionários e não temos ambientes seguros para negros, com bandeiras blacks, como já existem selos para pessoas com deficiência ou LBTAQIPA+."



O consultor que em 2016 realizou uma viagem por países dos cinco continentes e escreveu o livro "Dias pela Estrada" relatando a experiência, conta sobre lugares em que foi melhor acolhido e onde sofreu preconceito. "No brasil, em geral, os lugares com a maior parte da população negra, como Salvador têm essa maior acolhida, porém isso não livra a cidade de ser racista. Então, é sempre importante lembrar que o racismo existe em todos os lugares, em todas as partes do mundo. Mas Salvador é uma cidade em que eu me sinto protegido por ter muitas pessoas negras."

Sobre situações de racismo, Guilherme conta as experiências ruins que passou. "No exterior um país que me chamou a atenção negativamente foi a Rússia, quando cheguei li que se eu falasse na minha língua, eu poderia sofrer agressões. Pessoas negras, indígenas, árabes e de origem oriental poderiam sofrer com esse tipo de preconceito. Eu fiquei o tempo todo com medo e ouvi muitos relatos de racismo. Eu mesmo passei por uma situação em que uma pessoa pediu pra que eu ficasse quieto, foi a única situação, e eu estava o tempo todo com amigos para ficar mais protegido."


Houve casos mais graves em que o jornalista relatou ter sido expulso de um ambiente.


"Em 2013, em Londres, eu fui expulso de uma balada porque teoricamente eu não estava vestido adequadamente, mas eu estava vestido como todos os meus amigos. Também passei por situações de ser revistado sem motivos no meio da rua, isso aconteceu em Veneza e em Jerusalém."

Além do racismo evidente, Guilherme também passou por casos de homofobia. "Em Assunção, no Paraguai, estava em uma balada com o meu namorado e as pessoas pediram pra que a gente não trocasse carinhos, após isso achamos melhor sair do local."

O jornalista explica que situações mais extremas como essas são doloridas, mas há muita complexidade no preconceito velado. "Tem situações pequenas como olhares condenatórios de que você não deveria estar em determinado lugar, ou quando você chega em um local e não tem nenhuma outra pessoa negra e você não se sente à vontade. Esse racismo é muito mais complexo do que casos extremos, isso mostra o quanto é complicado o viajante negro estar nos lugares."

Pessoas gordas, com deficiência, LGBTI+ e negros viajam menos por passarem por dificuldades de acesso e preconceito. O jornalista confirma esse fato. "Muitas pessoas deixam de viajar para determinados lugares com medo de sofrer racismo, também tem uma coisa subjetiva de achar que viajar não é pra ela, de só trabalhar, se esforçar ao máximo, em alguns casos ter dois empregos, de nunca se dar direito ao descanso, lazer, a um sabático ou uma viagem."


Guilherme ainda comenta que o objetivo do site é auxiliar nesse tipo de situação. "Já ouvi muitas pessoas dizendo que não vão viajar para determinado lugar por conta disso, mas é justamente isso que o Guia negro tenta combater, dar informação e dizer que podemos ir para todo lugar que a gente quer, e também dizer o que acontece por lá e como se defender."

O jornalista explica que para melhorarmos as questões de preconceito racial, precisamos ter mais pessoas negras no comando, tanto na mídia, quanto nas empresas. "As empresas precisam se preocupar em fazer ações de diversidade que sejam concretas e não marketeiras e aumentar o numero de pessoas negras em suas equipes."


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